Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.
É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.
Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.
O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica…
Criado no exílio, em Los Angeles, durante o ano de 1946, o Soneto do Amigo tematiza uma amizade duradoura, capaz de vencer o tempo e a distância.
Ao longo dos versos é possível perceber que a amizade já não é mais cotidiana e não permite encontros tão frequentes como outrora, mas, por outro lado, o afeto, a confiança e o querer bem permanecem idênticos.
A relação de amizade descrita é sempre de uma redescoberta, de um conhecer novamente, apesar de haver uma confiança suscitada por ser uma relação de longa data, onde os indivíduos já se conhecem profundamente.
…
Vinícius de Moraes (1913-1980)
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
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