“Associamos masculinidade à tirania, e isso é muito duro para os jovens”. Atualmente, a definição de patriarcado é usada de forma ideológica e pejorativa, principalmente por grupos feministas.

Jordan Peterson, autor do best-seller internacional 12 regras para a vida – Um Antídoto para o Caos, discorda. Além disso, nas críticas à cultura patriarcal ele enxerga uma crítica à masculinidade.

Entretanto, antes de entender a polêmica, é preciso retomar o significado etimológico, histórico e religioso de patriarcado.


O que é Patriarcado?

A definição mais geral define o patriarcado como o sistema social cujo responsável pela família ou por uma pequena comunidade é o homem. Ele pode ser ou não ser o pai dos filhos sob sua responsabilidade e tem poder sobre as tradições vividas por aqueles que tutela.

O significado literal de patriarcado é “regra do pai”. Vem do grego πατριάρχης (patriarkhēs), “pai de uma raça” ou “chefe de uma raça, patriarca”.

Em uma cultura patriarcal, o homem assume a responsabilidade e a autoridade política, moral e religiosa sobre as mulheres e os filhos confiados à sua proteção.

Historicamente, o termo “patriarcado” referia-se ao governo autocrático do chefe de uma família. Entretanto, atualmente, o termo foi absorvido por feministas que consideram a masculinidade um problema social.

Em uma entrevista com Jordan Peterson, Helen Lewis, representando o pensamento feminista, definiu o patriarcado como um sistema de dominância masculina sobre a sociedade.

Peterson discordou, e respondeu argumentando que a sociedade ocidental não é patriarcal.

Todavia, antes de saber-lhe os motivos para afirmar isso, é preciso conhecer mais detalhadamente o que significa patriarcado.


O que é uma sociedade patriarcal?

O significado de patriarcado passou por várias transformações, pois é uma palavra antiga que já teve muitos sentidos diferentes. Esse termo já designou os chefes das famílias antes e depois do dilúvio e certos tipos de sacerdotes. Posteriormente, passou a ser utilizado para se referir ao poder monárquico.

A primeira grande mudança aconteceu por volta do século XIX com as primeiras teorias sobre os estágios da evolução humana. Outra mudança ocorreu no século XX, com a segunda onda do feminismo nos anos 60 e 70 no Ocidente.

Nos termos do Direito, o patriarca era o homem que não dependia de nenhum outro e que tinha autoridade sobre a família e um domínio, um território.

Vale ressaltar que em algumas sociedades, o marido e o pai não são os mesmos necessariamente. O tio pode ser aquele que detém a autoridade do pai, caso ele tenha falecido.

Para além da descrição histórica de certas sociedades, o termo já foi empregado de maneira elogiosa. Virtudes patriarcais significavam simplicidade de costumes, frugalidade e vida no campo. Essa descrição remete às pequenas sociedades que praticavam agricultura de subsistência.

Normalmente, essas comunidades ou tribos eram comandadas por homens. A autoridade passava de pai para filho, que seguiam tradições, ritos e modos de vida. O símbolo costumava ser o cajado, ícone da autoridade de quem pastoreia e pede a Deus por todos.

Por outro lado, o conceito pode ser negativo, principalmente se interpretado por um viés marxista da história. Por esse ângulo, a vida das comunidades é dividida como uma competição entre o homem e a mulher, por uma distinção de opressor e oprimido.

No caso da interpretação marxista, o patriarcado é algo mal, que dá poder aos homens para oprimir as mulheres.

O problema dessa visão é que ela não descreve uma realidade cultural específica, mas parte de exemplos individuais para generalizações, em busca de uma descrição ideológica do mundo.


Qual é a origem do patriarcado?

Exemplos-de-patriarcas

A origem do patriarcado remete aos antigos reinos da Mesopotâmia. Nessas sociedades, o poder patriarcal estava previsto na lei escrita. O código de Hamurabi previa essa autoridade para os homens e privações para as mulheres.

É muito natural que as sociedades tenham se desenvolvido em torno de homens que assumiram lideranças, pois eles eram mais fortes, corriam os maiores riscos, lutavam na guerra e enfrentavam a natureza.

Foi assim na maioria das culturas conhecidas.

Ainda hoje, nos países islâmicos do Irã e da Arábia, os direitos de propriedade são negados às mulheres. São casos em que os homens têm direito sobre a vida e a morte de suas esposas e filhas.


A cultura patriarcal e a religião

Os judeus também viviam num sistema patriarcal, no qual o homem podia ter autoridade social, política e sacerdotal. Antes do advento do cristianismo, algumas leis eram válidas apenas para homens e não para mulheres.

Até o século XIX, o patriarcado e os patriarcas também eram os dignitários da Igreja, e nos tempos antigos os primeiros chefes de família, que viveram antes ou depois do dilúvio. Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, são todos exemplos de patriarcas do Antigo Testamento da Bíblia cristã.

A Igreja Ortodoxa ainda mantém a expressão “Patriarca de Constantinopla” para se referir ao seu principal bispo, equivalente ao Papa no Ocidente.

Nesses casos religiosos, o significado de patriarca envolve missão, função e honraria. Muitos homens que dedicaram suas vidas às comunidades e, na tradição católica, tornaram-se santos, também receberam o título de patriarca por agirem como verdadeiros pais dos seus fiéis.

Por isso, mesmo que haja exemplos de dominação bruta por parte de alguns, as igrejas mantêm o sentido de patriarcado cristão, que envolve serviço amoroso e liderança sacrificial.


A sociedade patriarcal é boa ou ruim?

Na história da humanidade há exemplos de sociedades onde o patriarcado não era um problema social, e em outras sim. Em algumas, as mulheres não tinham direito algum, em outras podiam até mesmo ser rainhas.

O patriarcado em si mesmo não é bom ou ruim, é uma forma de organização social que pode ou não funcionar para um povo.

Considerando a definição atual, que vê no patriarcado um sistema de dominação do homem sobre a mulher, parece claramente ruim. O problema dessa visão é o ataque feito à masculinidade dos homens como se ela fosse o problema dos abusos que ocorrem.

As ideologias marxistas veem na figura do pai uma figura de opressão e dominação, e na família, uma célula burguesa construída socialmente. Esses pensadores entendem que o papel masculino e feminino não existe na natureza, pensam que é igualmente uma construção social.

Quando a concepção de patriarcado segue a ideologia feminista, redunda numa generalização. Por causa dos homens que agridem suas esposas, violentam-nas e não educam seus filhos, conclui-se que a família deve deixar de existir, bem como a distinção de pai e mãe, homem e mulher.

As visões negativas do patriarcado também envolvem a ideologia de gênero, que afirma que os conceitos de homem e mulher não existem, que tal distinção foi criada pela cultura.

Mas se o patriarcado for considerado como um serviço que o homem presta à sua família e à sociedade, um serviço de proteção, liderança e virilidade, pode ser visto com bons olhos por boa parte da população.

As visões positivas distinguem o papel do homem e da mulher, de forma que são diferentes, mas se complementam mutuamente. Nesse caso, é mais natural ao homem se arriscar, usar a força, liderar, prover e sustentar.

Os homens são mais propensos a fazerem trabalhos perigosos, exigentes e escaláveis. Homens se envolvem em trabalhos mais duros, difíceis, intensos, laboriosos e externos.

Às mulheres, é mais natural se arriscar menos para cuidar dos filhos e ficar ao lado deles, envolverem-se mais emocionalmente nas suas atividades e lidar mais com pessoas do que com coisas.


A resposta de Jordan Peterson sobre o sistema patriarcal

É comum encontrar quem alegue que a sociedade é injusta e patriarcal porque os homens têm a maior parte da riqueza, de propriedade, de capital e que as mulheres fazem mais trabalho não remunerado.

Para Jordan Peterson, essa análise é apenas um recorte da realidade, considerado de forma política e enviesada.

Ele explica que os homens são também os que passam as maiores necessidades. Eles também são maioria nas prisões, em condição de rua, em casos de suicídio, em casos de morte na guerra e em crimes violentos.

Segundo Peterson, as feministas usam uma pequena amostra de homens bem-sucedidos para representar toda a estrutura da sociedade ocidental. Da mesma forma que esses exemplos superam as mulheres, superam também a maior parte dos outros homens.  

Por isso, o famoso professor de psicologia de Toronto pergunta: Onde está a evidência de um patriarcado dominado pelos homens?

Em sua resposta a Helen Lewis, ele também explicou que as assimetrias entre os sexos não tornam o Ocidente um patriarcado de dominância masculina. O motivo está na diferença de interpretação entre o poder e a competência.

Poder ou competência?

Quando se afirma que a cultura ocidental vive o patriarcado, no qual os homens dominam, considera-se a premissa de que os homens se desempenham melhor tendo o poder como fundamento.

Para Peterson, o fundamento é a competência e não o poder. Seu exemplo consiste em apontar que apenas em tiranias as relações fundamentais entre as pessoas foram baseadas em poder.

Entretanto, no Ocidente as pessoas são escolhidas com base na competência que demonstram ter para resolver problemas. Procura-se o melhor serviço, o que não significa o mesmo que ser dominado por um tirano.

Durante a entrevista, ele afirmou que dentre as outras culturas, a sociedade ocidental é a menos tirânica já inventada e a menos tirânica que existe hoje.  

Em suas palavras:

“Homens e mulheres cooperaram fundamentalmente para lutar contra a catástrofe absoluta da existência”.

Juntos, lutaram contra uma altíssima taxa de mortalidade, inanição crônica, morte súbita, doenças e dificuldade de criar os filhos. Com a morte associada a tudo isso, ele julga simplista olhar para a história e dizer:

“Basicamente, o que ocorreu foi que os homens dominaram e perseguiram as mulheres nesse patriarcado tirano”.

Essa é uma interpretação equivocada da história e é terrível ensinar isso às mulheres mais jovens, além de ser um peso injusto colocado sob os ombros dos homens. O que melhor resume a história é a cooperação entre o homem e a mulher e não uma relação de opressão.

Se a história for lida como uma competição, uma das consequências será uma crise que atingirá os garotos.


Crise da masculinidade

crise-da-masculinidade-no-patriarcado

Jordan Peterson, recuperando um pouco da psicologia simbólica, também afirma que a ordem está associada à masculinidade. Os homens ao longo da história têm sido os construtores de povoados e cidades, os engenheiros, pedreiros, marceneiros e operários de máquinas pesadas.

Quando as ideologias modernas tentam solucionar o problema do patriarcado opressor, atacando a masculinidade, elas propõem que os meninos sejam criados como meninas ou que nem se faça distinção entre homem e mulher.

De acordo com Peterson, a agressividade dos meninos é natural, não aprendida.

“A agressividade sustenta o impulso de ser extraordinário, incontrolável, de competir, vencer – de ser ativamente virtuoso pelo menos em uma dimensão”.

O conselho aos homens foi assim resumido:

“Faça seu trabalho. Carregue seu fardo. Fique esperto e preste atenção. Não resmungue nem seja melindroso. Defenda seus amigos. Não bajule nem entregue a ninguém. Não seja escravo de regras idiotas. Nas palavras imortais de Arnold Schwarzenegger: ‘Não seja um mariquinha’”.

Os homens precisam ser durões porque os outros homens exigem isso e é, ademais, o que as mulheres querem, aliás não se sentirão seguras. Além do mais, os homens se tornam mais durões pressionando a si mesmos e uns aos outros.

É um erro pensar que o espírito masculino é fundamentalmente violento, relacionado à cultura do estupro, sendo, pois, um risco para o mundo.

Peterson diz que a masculinidade é fundamentalmente responsabilidade. A responsabilidade do homem é o seu papel na vida. É preciso caminhar com o mundo sobre as costas, apesar de todo o mal, todo o sofrimento e dificuldades. O homem deve carregar esse fardo.

Naturalmente, aqueles que assumem responsabilidades e lidam com elas de forma responsável são mais respeitados.

Mas esse ideal, porém, tem sido minado, porque o ideal de grandeza e responsabilidade tem sido tratado como promotor de estupros, pilhagens e cultura patriarcal, algo equivalente a um câncer que destrói o meio ambiente.

Ao menos essa é a principal forma de entendimento adotada pelas feministas.


Patriarcado e feminismo

A mesma imagem de uma sociedade composta por famílias sob a autoridade de um pai (paterfamilias), tornou-se objeto de acusação para as feministas do século XX.

A ideologia feminista, em busca de empoderamento feminino, iniciou uma luta pelo fim da autoridade paterna.

Com a pílula anticoncepcional, as mulheres passaram a ter mais flexibilidade sobre a própria fertilidade nos anos 60. Diferentemente de todos os outros séculos da história, as mulheres adquiriram maior liberdade para saírem de casa e realizar outras tarefas.

Todavia, visto que há uma diferença fundamental no modo como o homem e a mulher trabalham, a hierarquia ainda mostra os homens em posições mais bem sucedidas. O feminismo vê nisso uma injustiça e um sinal de tirania.

Alguns grupos começam a ver que o próprio casamento era um sinal de opressão.


Masculinidade ou machismo?

O que acontece com os garotos se eles forem tratados como opressores? Não vão adotar responsabilidades.

O sexo casual está mais disponível do que costumava ser. Dessa forma, os homens mudaram e não tiveram que assumir a responsabilidade de adotar um relacionamento monogâmico de longo prazo, a fim de obter acesso sexual.

Peterson trata esse fenômeno como uma síndrome de Peter Pan, pela qual os homens não querem crescer, nem assumir responsabilidades.

Diz ainda que em um nível profundo o Ocidente perdeu a fé na masculinidade, que tem se tornado fraca e denegrida. O ideal pelo qual o homem deve aspirar foi denegrido.

Ele considera que é essa a justificativa que explica porque a maior parte de seus seguidores é homem. Eles querem ouvi-lo falar sobre responsabilidade.


O patriarcado no Brasil

Segundo Olavo de Carvalho:

“Não por coincidência, o esfarelamento da sociedade em unidades familiares pequenas permanentemente ameaçadas de autodestruição veio acompanhada do fortalecimento inaudito de umas poucas famílias patriarcais, justamente aquelas que estavam e estão na liderança do mesmo processo. Refiro-me às dinastias nobiliárquicas e financeiras que hoje constituem o núcleo da elite globalista.”

De acordo com ele, a ciência social fomenta a luta contra o patriarcado entre as famílias comuns, mais pobres, em nome da liberdade e da igualdade. Mas, ao mesmo tempo, as grandes famílias, ricas e globalistas, mantém exatamente o sistema patriarcal para garantir a perpetuação de seus descendentes.

A família patriarcal é uma fonte de poder, que se transformou em privilégio de ricos, sendo negada aos que aprendem na faculdade a festejar o fim do patriarcalismo.

O resultado é a manutenção de umas famílias, e a autodestruição de outras.

“A família patriarcal não é uma unidade ético-dogmática: é uma unidade biológica e funcional forjada em torno de interesses objetivos permanentes, onde os maus e desajustados sempre acabam sendo aproveitados em alguma função útil ao conjunto.”

É preciso ter atenção, porque os ideólogos por trás do ataque ao patriarcado, estão mantendo em suas famílias o patriarcalismo. Segundo o Professor, isso acontece no Brasil e no mundo.

Comente e compartilhe. Quem você acha que vai gostar de ler sobre o que é patriarcado?

Fonte:brasilparalelo


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête

Publicidade