Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
Apresentando o ser humano como um ser social, que existe em comunicação com o outro, nesta composição o sujeito defende que o seu destino é amar, estabelecer relações, criar laços.
Descreve as várias dimensões do amor como perecíveis, cíclicas e mutáveis (“amar, desamar, amar”), transmitindo também as ideias de esperança e renovação. Sugere que mesmo perante a morte do sentimento, é preciso acreditar no seu renascimento e não desistir.
Apontado como “ser amoroso”, sempre “sozinho” no mundo, o sujeito defende que a salvação, o único propósito do ser humano está na relação com o outro.
Para isso, tem que aprender a amar “o que o mar traz” e “sepulta”, ou seja, o que nasce e o que morre. Vais mais além: é preciso amar a natureza, a realidade e os objetos, ter admiração e respeito por tudo o que existe, já que esse é “nosso destino”.
Para cumpri-lo é necessário que o indivíduo seja teimoso, “paciente”. Deve amar até a falta de amor, por conhecer sua “sede infinita”, a capacidade e vontade de amar mais e mais.
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
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