A partir da primeira onda feminista, o mundo ocidental não foi mais o mesmo. Mulheres de diversas partes do mundo se organizaram para conquistar novas possibilidades, como direitos ainda não existentes. Nessa época não faltaram divergências. O movimento não foi tão simples como muitos fazem parecer.  

Este artigo é baseado nos estudos da professora de história Ana Campagnolo.

O que você vai encontrar neste artigo?

  1. O ano inicial do feminismo e o movimento sufragista 
  2. Lista das principais características da primeira onda do feminismo
  3. Protofeminismo e a primeira onda 

O ano inicial do feminismo e o movimento sufragista 

A primeira onda do feminismo teve início no século XIX, mais especificamente no ano de 1848, quando Elizabeth Stanton e Lucretia Mott começaram reuniões com pautas feministas. As 2 principais pautas foram: 

  1. luta pelo voto feminino; 
  2. ingresso da mulher no mercado de trabalho.  

As reuniões eram feitas nos espaços da igreja wesleyana, na cidade de Seneca Falls, nos Estados Unidos. 

O movimento teve início após Elizabeth Stanton e Lucretia Mott terem sido barradas em um evento contra a escravidão, em 1840. 

Durante a reunião abolicionista, as duas tentaram convencer os demais da necessidade de mais direitos para as mulheres, recebendo uma contundente negativa dos demais abolicionistas. 

Após o evento, ambas as feministas saíram com uma convicção ainda maior da necessidade da luta por mais direitos para as mulheres. Elas abandonaram o movimento abolicionista e dedicaram todas suas energias para lutar pelo feminismo.

Foi nesse momento que nasceu a 1ª onda feminista. 

O pastor da igreja wesleyana abriu as portas para ambas após elas terem explicado suas motivações com base na Bíblia. 

A passagem da criação da mulher, no livro do Gênesis, diz que Deus utilizou a costela do homem, nem os membros superiores nem os inferiores, mas sim da parte central, demonstrando a igualdade de valor, segundo Santo Agostinho. 

As duas passaram a panfletar pela região e reunir-se periodicamente na igreja. 

Pela manhã, cuidavam dos seus lares e dos filhos, à noite militavam ardentemente, segundo palavras da própria Elizabeth Stanton. 

Retrato de Elizabeth Staton.

O movimento inicial era fraco, contava com o apoio de poucas mulheres e poucos homens. 

Porém, após anos de luta, as duas conseguiram organizar um movimento com 300 pessoas, homens e mulheres, nomeado como Convenção de Seneca Falls. 

Na convenção, as fundadoras fizeram uma pesquisa com os membros do grupo, perguntando se desejavam o voto feminino.

O resultado surpreendeu as chefes: a maioria das mulheres reprovou as pautas, pois seus interesses eram apenas possuir direitos civis básicos, e não adquirir mais deveres extenuantes.

Mesmo com o resultado negativo da pesquisa, as duas continuaram lutando pela inserção no mercado de trabalho e pelo voto feminino.

Mulheres da época manifestaram os motivos de não querer todos os direitos preconizados pelas chefes do movimento feminista. 

Ana Campagnolo, baseando-se no tratado anti-sufrágio de Grace Goodwin, publicado em 1912, diz:

“Em 1912, nesta publicação antissufrágio, nós vemos que as mulheres estavam isentas da responsabilidade política e legal, como servir ao Exército ou se sentar em júris. 

Muitas responsabilidades pesadas como prover para a família, pagar dívidas e ir para a cadeia por crimes menores são poupadas do sexo feminino. Se uma esposa se envolve em negócios ilegais, a lei responsabiliza o marido, e não ela.

Essas são apenas algumas das razões, citadas por Grace em seu livro, pelas quais as mulheres da época se negavam a aderir ao movimento sufragista. Inclusive, na Inglaterra, existia um partido político antissufrágio”. 

Nessa época, o voto era um direito derivado de um dever. Em todos os países que tinham o voto, apenas os homens que servissem no exército podiam votar.

Votar significava escolher alguém que teria poder de convocar uma guerra ou não. Por isso, apenas os homens podiam votar.  

O trabalho intelectual nessa época era restrito a um pequeno grupo, e não havia desejo por grande parte da classe média de participar dessa classe.

Havia certa possibilidade de estudos escolares e universitários para homens e mulheres de classes baixas.

Machado de Assis, Francisco de Paula Brito e o Papa São Pio X são exemplos de intelectuais do século XIX e XX oriundos de classes sociais baixas.

Santa Edith Stein era mulher e se tornou doutora em Filosofia no início do século XX. 

Retrato de Santa Edith Stein, filósofa católica que escreveu sobre teologia e sobre a essência da natureza feminina.

A quantidade do trabalho feminino passou a aumentar a partir da I Guerra Mundial, quando os homens estavam no campo de batalha, obrigando-as a trabalhar nas fábricas para que bens básicos fossem produzidos.

O mesmo aconteceu durante a II Guerra Mundial.

Contudo, logo após o fim das Grandes Guerras, as mulheres que tinham maridos com boa renda escolheram voltar para suas casas. 

Ana Campagnolo aponta que 3 milhões de mulheres optaram por sair de seus trabalhos pesados e voltar para o trabalho no lar. 


As sufragistas 

O pensamento de possibilitar mais direitos às mulheres já existia desde o início das democracias, como o tópico sobre o protofeminismo irá mostrar. Porém, o primeiro movimento sufragista organizado e triunfante foi o da Nova Zelândia. 

Em 1893 (após os movimentos de primeira onda dos EUA), o governo da Nova Zelândia concedeu às mulheres o direito de votar. 

O movimento passou a se fortalecer na Inglaterra até que elas também recebessem a permissão de votar. 

A partir desse momento, o movimento sufragista espalhou-se pelo mundo inteiro. 

Nos EUA, o direito de voto para as mulheres foi concedido em 1920.

Acerca de todo o movimento sufragista dos EUA, Phyllis Schlafly, uma das principais ativistas pelo sufrágio feminino, escreveu: 

“As sufragistas lutaram e venceram em 1920 pelo direito de voto das mulheres em todos os cinquenta estados americanos, mas elas eram mulheres que se baseavam na família e não tinham vontade de erradicar a natureza feminina. Definitivamente, elas também eram contra o aborto”


Lista das principais características da primeira onda do feminismo

As principais características da primeira fase do feminismo são: 

  • luta pelo direito de voto;
  • apoio de autoridades cristãs às mulheres sufragistas;
  • defesa de valores femininos por parte da maioria das mulheres do movimento; 
  • lideranças dos movimentos defendendo pautas contrárias às da maioria das mulheres.

Protofeminismo e a primeira onda 

O movimento feminista não surgiu a partir do nada. O principal movimento que forneceu as bases da primeira onda foi o protofeminismo. 

O feminismo, com os fundamentos conhecidos atualmente, surgiu no século XVIII, através das teses de William Godwin. Curiosamente, não foi algo iniciado por uma mulher. 

Pode-se afirmar que do início até os dias de hoje, houve 3 ondas e 4 fases deste mesmo movimento:

  • Protofeminismo — século XVIII;
  • 1ª onda — século XIX;
  • 2ª onda — século XX;
  • 3ª onda — século XX e XXI.

Willian, o primeiro feminista, militava contra o casamento, contra a monogamia e contra as estruturas tradicionais em geral.

Ele defendia o divórcio e a liberdade sexual, tanto para homens como para mulheres. 

William foi o primeiro autor a defender sistematicamente a igualdade sexual, o cerne do feminismo. 

Um dos protofeministas foi o Marquês de Sade, cujo nome foi usado para originar o termo sadismo sadomasoquismo.

Após William, a primeira mulher a defender o feminismo foi Mary Wollstonecraft, através da publicação do livro Uma Reivindicação pelos direitos da mulher.


Protofeminismo

William Godwin e Mary Wollstonecraft.

O período inicial do movimento é chamado de protofeminismo. 

Foi o início das reivindicações feministas no âmbito social.

Porém, não havia militância quanto ao mercado de trabalho ou no campo político, donde o nome protofeminismo.

A pauta do movimento era lutar contra a monogamia, o casamento, e defender a liberdade sexual das mulheres.

Elas falavam explicitamente sobre incesto, sexo grupal e outras práticas afins.

Mary foi amante de um dos principais defensores de ideias feministas de seu tempo, o diplomata estadunidense Gilbert Imlay.

Mary engravidou de Gilbert. Mas quando foi contar a notícia ao pai de sua criança, ele já havia fugido.

Posteriormente, ela o encontrou vivendo com outra mulher e ofereceu-se para ser sua segunda companheira, já que estava sem dinheiro para cuidar da filha. Ele negou e Mary tentou suicidar-se no rio Tâmisa.

Mary não morreu após a tentativa. Ao continuar sua vida, conheceu William Godwin, o primeiro feminista. Após apaixonarem-se, eles se casaram.

Ana Campagnolo comenta sobre o casamento e suas repercussões:

“Mary contraiu matrimônio com William Godwin, que, aliás, também é considerado um dos precursores do pensamento anarquista. Criticados e questionados por suas reputações libertinas não condizerem com a oficialização do casamento, os noivos se justificaram: o casamento foi o meio legal que encontraram para proteger financeiramente tanto Mary quanto o bebê que nasceria”. 

Outra feminista importante do período foi Olympe de Gouges. Após publicar suas teses feministas (lembrando que na época o movimento ainda não tinha nome) foi guilhotinada por Robespierre.

Muitas lideranças feministas da primeira onda seguiram a linha do protofeminismo. Elizabeth Stanton e suas companheiras passaram a contestar posições cristãs desde o início do movimento, mesmo tendo sido abrigadas apenas em um recinto cristão. 

Elizabeth publicou o livro Bíblia Feminista, que possuía as seguintes teses:

  • rechaço ao cristianismo por não permitir mulheres como sacerdotes;
  • defesa do divórcio;
  • rechaço à família e à maternidade; 
  • defesa do ingresso das mulheres em todos os tipos de trabalho; 

Muitas das mulheres que participaram do movimento sufragista não eram feministas. 

O movimento continuou se desenvolvendo com as premissas da Bíblia Feminista, surgindo a 2ª onda, a partir do início século XX. 

Comente e compartilhe. Quem você acha que vai gostar de ler sobre a primeira onda do feminismo?

Fonte:brasilparalelo


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête

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