Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
…
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
A produção poética de Carlos Drummond de Andrade tem como um dos seus focos principais a reflexão sobre a passagem do tempo, a memória e a saudade. Nesta composição, o sujeito lírico começa por estabelecer a diferença entre “ausência” e “falta”.
Com a experiência de vida, percebeu que saudade não é sinônimo de falta mas o seu oposto: uma presença constante.
Assim, a ausência é algo que o acompanha a todo o momento, que é assimilado na sua memória e passa a fazer parte dele. Tudo aquilo que perdemos e do qual sentimos saudade está eternizado em nós e, por isso, permanece conosco.
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
Deixe uma resposta