Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Em “Memória”, o sujeito poético confessa que está confuso e magoado por amar aquilo que já perdeu. Por vezes, a superação simplesmente não acontece e esse processo não pode ser forçado.
A composição fala daqueles momentos em que continuamos amando mesmo quando não devemos fazê-lo. Movido pelo “sem sentido / apelo do Não”, o sujeito insiste quando é rejeitado. Preso ao passado, deixa de prestar atenção ao tempo presente, aquilo que ainda pode tocar e viver. Contrariamente à efemeridade do agora, o passado, aquilo que já terminou, é eterno quando se instala na memória.
…
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
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