Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

– Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando…
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
“Neste país é proibido sonhar.”


Com um tom de doçura e inocência, a composição apresenta um sujeito que age como um menino apaixonado. Escrevendo o nome da amada com as letrinhas da sopa, fica frustrado quando percebe que um elemento está em falta.

Alguém, que está presente na mesa, repara na sua atitude, que parece absurda ou incompreensível. Resolve chamar a atenção dele e repreende-lo: pergunta se ele está “sonhando”, como se isso fosse uma coisa ruim.

Aí, o eu-lírico confirma o seu caráter sonhador e relembra o quanto é mal encarado numa sociedade que encara o sonho como algo inútil e, por isso, perigoso. O último verso, que anuncia uma proibição, pode ser interpretado como um comentário acerca da repressão que sufocava o povo brasileiro.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête

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