Maltratado normalmente por progressistas de todos os matizes, muitas vezes por falta de conhecimento, e em outras até mesmo por má-fé, o termo “conservador” passou a ser utilizado como um palavrão em xingamentos àqueles que assim se identificam, como se fossem pessoas que cheirassem à mofo, usassem casacas compridas, cartolas e bengalas, como se tivessem desembarcado de alguma nave vinda diretamente do passado para pregar aos “modernos” uma espécie de imobilismo quanto os aspectos da vida social, cultural, econômica e política. Nada mais longe da realidade.

No caso brasileiro em particular, a ampla e permanente divulgação da definição enviesada e equivocada do termo, o que atribuímos ao desconhecimento decorrente da falta de leitura dos cânones literários conservadores, ocorreu a partir do espectro político onde situam-se os partidos de esquerda, e irradiou-se através de militantes políticos, intelectuais e a grande mídia, para o grande público, que em parte a aceitou como líquida e certa.

A explicação mais plausível para a tentativa de associação da palavra “conservador” a acontecimentos nada simpáticos da vida nacional, deve-se, sobretudo, aos princípios adotados por essa corrente de pensamento, que refutou (e refuta) com veemência as expectativas revolucionárias de cariz comunista que rondaram o país e que culminaram, infelizmente, no golpe militar ocorrido no ano de 1964. Vivíamos então os reflexos diretos da guerra-fria.

Proclamação da República do Brasil

Longe de encontrar justificativas para as muitas tentativas, golpes ou contragolpes ocorridos no país desde a Proclamação da República, em 1889, condenáveis pelas supostas ameaças de um lado ou pelos resultados efetivos postos em prática pelo outro, é necessário apenas resgatar o verdadeiro significado do pensamento conservador, e fazer-lhe justiça pelo que realmente significa.

Tendo como principal autor na modernidade o filósofo, teórico político e orador irlandês, membro do parlamento londrino pelo Whig, Edmund Burke (1729-1797), o conservadorismo é exatamente o oposto ao que lhe é atribuído por seus detratores. Trata antes de uma maneira de ser do homem no mundo, que por não acreditar nas utopias criadas por outros homens e suas promessas de sociedades perfeitas, não segue cartilhas prontas como fossem receitas para a felicidade.


Reconhecendo a imperfeição humana em todas as esferas da vida, em especial à política por suas possíveis consequências abrangentes, muitas delas nefastas e incontornáveis a exemplo do que ocorreu na Revolução Francesa, que por ter sido contemporânea a Burke o levou a escrever uma critica contundente àquele radicalismo, o conservadorismo é, antes de mais nada, uma defesa da Prudência para lidar com o mundo onde vivemos, aqui e agora.

Representação de uma Guilhotina usada na Revolução Francesa

Neste sentido, para o conservador, tanto as utopias revolucionárias (voltadas ao futuro) como as reacionárias (presas ao passado), são consideradas como uma fuga da realidade para um lugar desconhecido, por representarem uma fraqueza do homem para manter os pés firmes no chão e enfrentar as contingências do presente.

Considerada uma ideologia posicional, o conservadorismo permanece silencioso, às vezes por longos anos, como que em estado latente, até que novas ideias de um mundo perfeito surjam e ameacem as liberdades e os costumes do homem comum e sua comunidade, e que lhes traz a “felicidade possível”.

Continua…

Benhur Teixeira/Administrador de Empresas


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête

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