“Desviei involuntariamente a vista daquele olhar vítreo para olhar-lhe os lábios delgados e contraídos. Entreabriram-se e, num sorriso bem significativo, os dentes da Berenice transformada se foram lentamente mostrando. Prouvera a Deus que eu nunca os tivesse visto, tendo-os visto, tivesse morrido! […] Os dentes!. . . Os dentes! Estavam aqui e ali e por toda parte, visíveis, palpáveis. Diante de mim. Compridos, estreitos e excessivamente brancos, com os pálidos lábios contraídos sobre eles, como no instante mesmo do seu primeiro e terrível crescimento. Então desencadeou-se a plena fúria minha monomania e em vão lutei contra sua estranha e irresistível influência. Nos múltiplos objetos do mundo exterior, só pensava naqueles dentes. Queria-os com frenético desejo. Todos os assuntos e todos os interesses diversos foram absorvidos por aquela exclusiva contemplação.”
No trecho acima, vemos o narrador de Berenice, deixando-se tomar com completo pela paranoia com os dentes de sua prima Berenice. O narrador sofre de uma doença, monomania, a qual faz com que sua atenção seja exageradamente concentrada em qualquer coisa por mais simples que seja. E a visão dos dentes da prima o perturba de maneira assustadora, como podemos ver nas palavras que parecem ser ditas por alguém em pleno desespero. O conto todo se desenvolve em torno da obsessão do narrador, que, assim como em outros contos do Poe, tem sérios transtornos mentais. Tal trecho acima, uma das citações mais marcantes de Berenice, demonstra uma agonia que permeia muitos dos melhores contos de Poe.
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
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