A falácia de apelo à autoridade irrelevante ocorre em diferentes ocasiões. Comum a todas elas está a suposição de que uma ideia é verdadeira simplesmente porque uma autoridade disse.
Há pelo menos três casos em que essa falácia ocorre:
- Usar autoridades fora de seu campo de especialização;
- Usar autoridades que não têm real qualificação no assunto;
- Usar autoridades em assuntos nos quais não há consenso;
- Usar autoridades anônimas.
É importante lembrar que nem sempre é falacioso recorrer a uma autoridade. Há maneiras perfeitamente legítimas de fazer isso na argumentação, como verá abaixo.
Autoridades fora do campo de especialização
O uso de autoridades como referência fora de seu campo de atuação é muito comum, principalmente na propaganda.

A propaganda acima explora uma autoridade irrelevante, o ator Marcelo Serrado, para promover um curso de inglês. Embora ele possa ser considerado um especialista na sua área de atuação (cinema, televisão, teatro e áreas afins) não é um especialista no ensino de inglês.
Ao tentar promover o curso usando a autoridade de Marcelo Serrado, a Fisk pratica, portanto, um apelo à autoridade irrelevante.
Porém, uma propaganda não necessariamente precisa cometer essa falácia. Um apelo à autoridade correto, nesse caso, seria promover o curso através da opinião de um especialista no ensino de inglês, como um professor ou pesquisador do ramo. Tal pessoa está em condições de emitir uma opinião especializada sobre o assunto. Um ator, ao contrário, talvez nem ter feito o curso que está promovendo. Além disso, certamente não conhece a discussão científica sobre teorias da aprendizagem de inglês.
Uma segunda maneira de fazer um comercial não falacioso, dessa vez usando a autoridade de Marcelo Serrado, seria prover um curso de atores, por exemplo.
Temas sem consenso
Um segundo tipo de apelo à autoridade irrelevante ocorre quando uma autoridade é citada num assunto no qual não há consenso.
Suponha que está assistindo um debate sobre aborto e o seguinte argumento é usado
O feto com três meses já tem direito à vida, de acordo com o papa Francisco.
O papa Francisco certamente será visto como uma autoridade moral para aqueles que são católicos e por alguns não católicos. Ainda assim, não é apropriado usar um argumento de autoridade nesse caso.
O problema aqui é que diferentes estudiosos do assunto podem ter opiniões opostas. A autoridade A pode dizer que um feto com três meses tem direito à vida, enquanto a autoridade B diz que não tem.
Não faz sentido defender uma opinião pelo simples fato de que seu especialista favorito adota ela. Tal postura seria totalmente arbitrária e não levaria a um bom debate. A outra pessoa pode citar uma autoridade com opinião oposta e o debate cairá num impasse.
Citar especialistas só faz sentido, então, quando se trata de um campo no qual há relativo consenso entre os estudiosos.
Pesquisas sem fonte
Um terceiro tipo de erro envolvendo autoridade ocorre quando são citadas pesquisas sem fontes.
Em debates, discussões polêmicas e até em textos é comum o uso da expressão “pesquisas indicam” como um apelo à autoridade. Esse é um tipo de falácia chamada apelo à autoridade anônima. O problema nesse caso é que, na ausência de um nome para a autoridade, fica impossível avaliar se ela é um especialista ou não no assunto.
Então, sempre que um argumento de autoridade for usado, é necessário revelar a fonte, não basta simplesmente dizer “pesquisas indicam”.
Autoridades que não são autoridades
Um último tipo de autoridade irrelevante, talvez o pior de todos, é o especialista sem verdadeira formação.
Com a facilidade de produção e difusão de conteúdo permitida pela internet, algumas pessoas se tornaram uma autoridade numa determinada área sem de fato o serem. Não são poucos os falsos especialistas com milhares de seguidores.
Portanto, é sempre necessário verificar as credenciais da autoridade que está sendo usada em um argumento. O ideal é que a pessoa tenha uma formação sólida na área, com doutorado e pesquisa reconhecida por colegas de profissão. Outros casos devem ser analisados com muita cautela.
…
Fonte:escoladefilosofia
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
Deixe uma resposta