A falácia do espantalho ou homem de palha é uma tática muito usada em debates. Ela funciona assim: primeiro você ouve o que seu oponente diz, depois interpreta de forma distorcida, de modo que o argumento dele pareça mais fraco do que realmente é. Por fim, ataca esse argumento, mostrando como é falho. Assim fica mais fácil de criticar o adversário. É como se, numa luta, você atacasse um espantalho e não a pessoa real.
A metáfora usada para dar nome a essa falácia é bastante expressiva. Ela se refere a uma estratégia de ataque ou rebelião que leva grupos de pessoas a criar uma espécie de boneco de palha do líder do grupo a ser atacado e transferir simbolicamente o ataque da pessoa para o boneco que a representa.
Exemplo
Imagine que a cena abaixo ocorre em um debate na televisão. O político A e B discutem sobre quais devem ser as prioridades do governo.
Político A – Por que o governo só se preocupa com o crime quando questões como pobreza infantil e a destruição ambiental continuam a ser subestimadas?
Político B – Estou surpreso que você pense que o crime é tão sem importância. Com o aumento alarmante da violência de gangues em nossas cidades, enfrentamos uma quebra de lei e ordem em grande escala. Os membros da oposição desejam uma sociedade em que as pessoas nunca poderiam se sentir seguras mesmo em suas próprias casas.
Nesse primeiro exemplo, o Político A defende a opinião de que questões como pobreza infantil e destruição ambiental deveriam ter mais prioridade na agenda do governo e não apenas a violência. Essa é sua opinião real.
O Político B, para criticar seu adversário, distorce essa opinião criando o que chamamos, metaforicamente, de espantalho: atribui a seu oponente a tese de que o crime é um problema social sem importância. Porém não era isso que o Político A estava defendendo. Assim, o Político B rejeita uma opinião que não era sustentada por ninguém e deixa seu adversário sem resposta, incorrendo na falácia do espantalho.
Por que é uma falácia?
Podemos considerar a falácia do espantalho um argumento falacioso por duas razões:
- Em primeiro lugar, porque ela é uma fuga do assunto em debate. Considere o primeiro caso analisado. Ao invés de criticar a opinião do Político A, o Político B fugiu da discussão refutando uma opinião que não era sustentada por ninguém. Outra maneira comum de dizer isso é afirmar que as colocações do Político B não foram relevantes. Isso viola uma das regras básicas de um debate, de ouvir com atenção o que nosso oponente está defendendo e compreender corretamente o que este quer dizer.
- Em segundo lugar, a falácia do espantalho pode ser considerada uma estratégia retórica destinada a ganhar a adesão do público mesmo sem bons argumentos. Considere o Caso 1. A segurança é um tema político que gera preocupação para grande parte da população. Ao sabermos que o Político A, supostamente, a considera um tema secundário, dificilmente o apoiaremos. Ou seja, diante de um público desatento, que não está disposto a avaliar com cuidado o que é dito pelos dois lados do debate, a afirmação do Político B pode ter o efeito de gerar apoio político, mesmo que qualquer argumento tenha sido usado.
Como identificar essa falácia?
Para identificar se estamos diante de uma falácia do espantalho é útil fazer duas perguntas:
- A opinião do oponente foi mal interpretada?
- Essa opinião mal interpretada foi a base para a crítica ou rejeição das ideias do oponente?
Caso a resposta para essas duas perguntas seja afirmativa, estamos diante de uma falácia do espantalho.
Referência e leitura adicional
Para uma análise mais aprofunda, sugerimos a leitura de Lógica Informal, um livro de Douglas Walton. Esse é o livro mais abrangente em português sobre o assunto.
Douglas Walton. Lógica Informal: manual de argumentação crítica. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2012.
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Fonte: escoladefilosofia
Até mais!
Equipe Tête-à-Tête
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