Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.Detonaste o pacto.Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridadesem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o... Continue lendo →
Ponho-me a escrever teu nomecom letras de macarrão.No prato, a sopa esfria, cheia de escamase debruçados na mesa todos contemplamesse romântico trabalho.Desgraçadamente falta uma letra,uma letra somentepara acabar teu nome!- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!Eu estava sonhando...E há... Continue lendo →
Não quero saber de IPM, quero saber de IP.O M que se acrescentar não será militar,será de Maravilha.Estou abençoando a terra pela alegria do ipê.Mesmo roxo, o ipê me transporta ao círculo da alegria,onde encontro, dadivoso, o ipê-amarelo.Este me dá... Continue lendo →
Vamos, não chores.A infância está perdida.A mocidade está perdida.Mas a vida não se perdeu.O primeiro amor passou.O segundo amor passou.O terceiro amor passou.Mas o coração continua.Perdeste o melhor amigo.Não tentaste qualquer viagem.Não possuis carro, navio, terra.Mas tens um cão.Algumas palavras... Continue lendo →
O tempo passa? Não passano abismo do coração.Lá dentro, perdura a graçado amor, florindo em canção.O tempo nos aproximacada vez mais, nos reduza um só verso e uma rimade mãos e olhos, na luz.Não há tempo consumidonem tempo a economizar.O... Continue lendo →
Carlos, sossegue, o amoré isso que você está vendo:hoje beija, amanhã não beija,depois de amanhã é domingoe segunda-feira ninguém sabeo que será.Inútil você resistirou mesmo suicidar-se.Não se mate, oh não se mate,Reserve-se todo paraas bodas que ninguém sabequando virão,se é... Continue lendo →
Amar o perdidodeixa confundidoeste coração.Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não.As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mãoMas as coisas findasmuito mais que lindas,essas ficarão. Em "Memória", o sujeito poético confessa que está confuso e magoado por amar aquilo... Continue lendo →
Quando digo “meu Deus”,afirmo a propriedade.Há mil deuses pessoaisem nichos da cidade.Quando digo “meu Deus”,crio cumplicidade.Mais fraco, sou mais fortedo que a desirmandade.Quando digo “meu Deus”,grito minha orfandade.O rei que me ofereçorouba-me a liberdade.Quando digo “meu Deus”,choro minha ansiedade.Não sei... Continue lendo →
Oh! se te amei, e quanto!Mas não foi tanto assim.Até os deuses claudicamem nugas de aritmética.Meço o passado com réguade exagerar as distâncias.Tudo tão triste, e o mais tristeé não ter tristeza alguma.É não venerar os códigosde acasalar e sofrer.É... Continue lendo →
Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações... Continue lendo →
Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito,... Continue lendo →
Eu te amo porque te amo.Não precisas ser amante,e nem sempre sabes sê-lo.Eu te amo porque te amo.Amor é estado de graçae com amor não se paga.Amor é dado de graça,é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.Amor foge a dicionáriose... Continue lendo →
Os amantes se amam cruelmentee com se amarem tanto não se veem.Um se beija no outro, refletido.Dois amantes que são? Dois inimigos.Amantes são meninos estragadospelo mimo de amar: e não percebemquanto se pulverizam no enlaçar-se,e como o que era mundo... Continue lendo →
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.Tempo em que não se diz mais: meu amor.Porque o amor resultou inútil.E os olhos não choram.E as mãos tecem apenas o rude trabalho.E o coração está... Continue lendo →
POEMA DE SETE FACESQuando nasci, um anjo tortodesses que vivem na sombradisse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.As casas espiam os homensque correm atrás de mulheres.A tarde talvez fosse azul,não houvesse tantos desejos.O bonde passa cheio de pernas:pernas brancas pretas... Continue lendo →
A hora do cansaço As coisas que amamos,as pessoas que amamossão eternas até certo ponto.Duram o infinito variávelno limite de nosso poderde respirar a eternidade. Pensá-las é pensar que não acabam nunca,dar-lhes moldura de granito.De outra matéria se tornam, absoluta,numa... Continue lendo →
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,onde as formas e as nações não encerram nenhum exemplo.Praticas laboriosamente os gestos universais,sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,e... Continue lendo →
Carlos Drummond de Andrade é um dos típicos homens ligados à cultura que compõem a página de rosto de um país. Considerado como um dos melhores poetas brasileiros do século XX, o seu cunho e estilo personalizado vêm-se perpetuando pelas décadas e... Continue lendo →
Carlos Drummond de Andrade foi um grande poeta, contista e cronista brasileiro. Pelo conjunto de sua obra, tornou-se um dos principais representantes da Literatura Brasileira do século XX. É considerado, por muitos críticos literários, como um dos principais escritores do... Continue lendo →
A noitedesceu. Que noite!Já não enxergo meus irmãos.E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam. A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.A noite caiu.... Continue lendo →
Certa palavra dorme na sombrade um livro raro.Como desencantá-la?É a senha da vidaa senha do mundo.Vou procurá-la. Vou procurá-la a vida inteirano mundo todo.Se tarda o encontro, se não a encontro,não desanimo,procuro sempre. Procuro sempre, e minha procuraficará sendominha palavra.... Continue lendo →
Na minha rua estão cortando árvoresbotando trilhosconstruindo casas. Minha rua acordou mudada.Os vizinhos não se conformam.Eles não sabem que a vidatem dessas exigências brutas. Só minha filha goza o espetáculoe se diverte com os andaimes,a luz da solda autógenae o... Continue lendo →
Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.Detonaste o pacto.Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridadesem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o... Continue lendo →
O amor antigo vive de si mesmo,não de cultivo alheio ou de presença.Nada exige nem pede. Nada espera,mas do destino vão nega a sentença. O amor antigo tem raízes fundas,feitas de sofrimento e de beleza.por aquelas mergulha no infinito,e por... Continue lendo →
Amar o perdidodeixa confundidoeste coração. Nada pode o olvidocontra o sem sentidoapelo do Não. As coisas tangíveistornam-se insensíveisà palma da mão. Mas as coisas findas,muito mais que lindas,essas ficarão. ... Carlos Drummond de Andrade Até mais! Equipe Tête-à-Tête
Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer, amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso,sozinho, em rotação universal,senão rodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,o... Continue lendo →
Eu te amo porque te amo.Não precisas ser amante,e nem sempre sabes sê-lo.Eu te amo porque te amo.Amor é estado de graçae com amor não se paga. Amor é dado de graça,é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.Amor foge a... Continue lendo →
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.Tempo de absoluta depuração.Tempo em que não se diz mais: meu amor.Porque o amor resultou inútil.E os olhos não choram.E as mãos tecem apenas o rude trabalho.E o coração está... Continue lendo →
Os amantes se amam cruelmentee com se amarem tanto não se vêem.Um se beija no outro, refletido.Dois amantes que são? Dois inimigos. Amantes são meninos estragadospelo mimo de amar: e não percebemquanto se pulverizam no enlaçar-se,e como o que era... Continue lendo →
Por muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações... Continue lendo →