Este vento não leva apenas os chapéus,estas plumas, estas sedas:este vento leva todos os rostos,muito mais depressa. Nossas vozes já estao longe,e como se pode conversar,como podem conversar estes passantesdecapitados pelo vento? Não, não podemos segurar o nosso rosto:as mãos... Continue lendo →
De longe te hei-de amar– da tranquila distânciaem que o amor é saudadee o desejo, constância.Do divino lugaronde o bem da existênciaé ser eternidadee parecer ausência.Quem precisa explicaro momento e a fragrânciada Rosa, que persuadesem nenhuma arrogância?E, no fundo do... Continue lendo →
Em apenas quinze versos, Cecília Meireles consegue compor na sua Canção uma ode à urgência do amor. Singelo e direto, os versos convocam o retorno do amado. O poema, presente no livro Retrato natural (1949), também conjuga elementos recorrentes na lírica da poetisa: a... Continue lendo →
Desejo uma fotografiacomo esta — o senhor vê? — como esta:em que para sempre me riacomo um vestido de eterna festa.Como tenho a testa sombria,derrame luz na minha testa.Deixe esta ruga, que me emprestaum certo ar de sabedoria.Não meta fundos... Continue lendo →
O pequeno vaga-lumecom sua verde lanterna,que passava pela sombrainquietando a flor e a treva— meteoro da noite, humilde,dos horizontes da relva;o pequeno vaga-lume,queimada a sua lanterna,jaz carbonizado e tristee qualquer brisa o carrega:mortalha de exíguas franjasque foi seu corpo de... Continue lendo →
Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .No céu de outono, anda um langor final de plumaQue se desfaz por entre os dedos, vagamente . . . Os galos cantam, no crepúsculo dormente . . .Tudo se apaga, e... Continue lendo →
Cecília Meireles foi uma das grandes escritoras da literatura brasileira no século XX. Seus poemas encantam os leitores de todas as idades. É considerada uma das principais escritoras da Segunda Fase do Modernismo brasileiro. Sua principal obra foi Romanceiro da Inconfidência,... Continue lendo →
O que me encanta é a linha aladadas tuas espáduas, e a curvaque descreves, passáro da água! É a tua fina, ágil cintura,e esse adeus da tua gargantapara cemitérios de espuma! É a despedida, que me encanta,quando te desprendes ao... Continue lendo →
A chuva chove mansamente... como um sonoQue tranqüilize, pacifique, resserene...A chuva chove mansamente... Que abandono!A chuva é a música de um poema de Verlaine... E vem-me o sonho de uma véspera solene,Em certo paço, já sem data e já sem... Continue lendo →
Basta-me um pequeno gesto,feito de longe e de leve,para que venhas comigoe eu para sempre te leve.... - mas só esse eu não farei. Uma palavra caídadas montanhas dos instantesdesmancha todos os marese une as terras mais distantes... - palavra... Continue lendo →
Não te aflijas com a pétala que voa:também é ser, deixar de ser assim. Rosas verá, só de cinzas franzida,mortas, intactas pelo teu jardim. Eu deixo aroma até nos meus espinhosao longe, o vento vai falando de mim. E por... Continue lendo →
Eu canto porque o instante existee a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta. Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento. Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,- não sei,... Continue lendo →
Pus o meu sonho num navioe o navio em cima do mar;- depois, abri o mar com as mãos,para o meu sonho naufragar Minhas mãos ainda estão molhadasdo azul das ondas entreabertas,e a cor que escorre de meus dedoscolore as... Continue lendo →
Tu tens um medo:Acabar.Não vês que acabas todo o dia.Que morres no amor.Na tristeza.Na dúvida.No desejo.Que te renovas todo o dia.No amor.Na tristeza.Na dúvida.No desejo.Que és sempre outro.Que és sempre o mesmo.Que morrerás por idades imensas.Até não teres medo de... Continue lendo →
Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.... Continue lendo →
Ou se tem chuva e não se tem sol,ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel,ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe... Continue lendo →
Tenho fases, como a luaFases de andar escondida,fases de vir para a rua…Perdição da minha vida!Perdição da vida minha!Tenho fases de ser tua,tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e que vêm,no secreto calendárioque um astrólogo arbitrárioinventou para meu... Continue lendo →
Eu não tinha este rosto de hoje,Assim calmo, assim triste, assim magro,Nem estes olhos tão vazios,Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força,Tão paradas e frias e mortas;Eu não tinha este coraçãoQue nem se mostra. Eu não... Continue lendo →
Eu vi o raio de solbeijar o outono.Eu vi na mão dos adeuseso anel de ouro.Não quero dizer o dia.Não posso dizer o dono. Eu vi bandeiras abertassobre o mar largoe ouvi cantar as sereias.Longe, num barco,deixei meus olhos alegres,trouxe... Continue lendo →
Eu vi o raio de solbeijar o outono.Eu vi na mão dos adeuseso anel de ouro.Não quero dizer o dia.Não posso dizer o dono. Eu vi bandeiras abertassobre o mar largoe ouvi cantar as sereias.Longe, num barco,deixei meus olhos alegres,trouxe... Continue lendo →
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa.Não sou alegre nem sou triste:sou poeta. Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento. Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não... Continue lendo →
Perdoa-me, folha seca,não posso cuidar de ti.Vim para amar neste mundo,e até do amor me perdi.De que serviu tecer florespelas areias do chãose havia gente dormindosobre o próprio coração?E não pude levantá-la!Choro pelo que não fiz.E pela minha fraquezaé que... Continue lendo →