O Carnaval é uma das celebrações mais populares do mundo, especialmente no Brasil. A história mostra que essa festa é muito mais do que apenas um momento de folia e animação. 

As origens do carnaval remontam a tempos antigos, com possíveis raízes na cultura pagã e fortes elementos da cristandade medieval, afirma o historiador Guilherme Almeida. 

Conheça agora a história do Carnaval, desde séculos atrás até a sociedade contemporânea.

O que você vai encontrar neste artigo?

  1. Origem do carnaval
  2. Principais associações com o Paganismo
  3. O Carnaval no Cristianismo
  4. Carnaval de Veneza – um novo glamour
  5. Carnaval no Brasil moderno
  6. Discussões sobre o carnaval

Origem do carnaval

A palavra carnaval tem origem no latim carnem levare, que significa “afastar-se da carne“. O nome da festa surgiu aproximadamente no século XII para nominar o momento que os cristãos abandonaram os prazeres lícitos da carne para fortificar o espírito durante a quaresma.

A historiadora da Universidade de Columbia, Katherine McKittrick, aponta que a associação do carnaval com festas pagãs é difícil de se traçar. 

McKittrick explica que as tradições do carnaval trazidas para o Novo Mundo se misturaram com tradições africanas e indígenas, gerando o carnaval moderno. Nessa perspectiva, o carnaval se tornou pagão.


Principais associações com o Paganismo

“O Carnaval é uma celebração da vida e da natureza, que tem raízes profundas na cultura pagã e que foi gradualmente incorporada à liturgia cristã”, afirmou Rachel Heiman, professora de história da Universidade de Nova York.

Essa é a visão de parte da historiografia moderna. Pesquisadores dessa linha traçam paralelos com celebrações de diversos povos, tais como os mesopotâmicos, gregos e romanos. 

Os babilônios celebravam uma festa conhecida como Saceias, sendo essa um dos principais apontamentos de quem defende a visão pagã do carnaval. 

Na Saceias, um prisioneiro era escolhido para substituir o rei durante cinco dias. Nesse período, o prisioneiro desfrutava de alguns poderes e privilégios reais, mas, no fim, era espancado e executado.

No entanto, a festa denominada carnaval surgiu apenas no mundo cristão e estavam relacionadas a quaresma, não à louvores a carne ou a uma divindade do prazer, como acontecia no mundo pagão com os bacanais e as saturnálias.


O Carnaval no Cristianismo

No Cristianismo, o carnaval é uma festa informal, já que não está inscrita no calendário litúrgico nem possui organização eclesiástica. A data também é conhecida como terça-feira gorda, que geralmente é caracterizada pela alimentação farta antes do ascetismo da Quaresma, iniciado na quarta-feira de cinzas. 

Os religiosos passaram a festejar antes da quaresma para agradecer os dons de Deus e se despedir dos prazeres lícitos da carne que seriam deixados de lado nos próximos dias para fortalecer o espírito.

A historiadora Rachel Heiman explica que a Quaresma é um período de 40 dias de penitência para se preparar adequadamente para a Páscoa, a data mais importante do Cristianismo. 

A quaresma foi estabelecida pelo Papa São Gregório Magno, no século IV. Nesse período, os cristãos jejuam, oram, praticam a caridade e se arrependem de seus pecados. 


Carnaval de Veneza – um novo glamour

O Carnaval de Veneza se iniciou ainda no contexto cristão, no século XII. Segundo a historiadora Maria Rosa Menocal, o Carnaval de Veneza “é uma festa secular que celebra o triunfo da vida sobre a morte, da alegria sobre a tristeza”.

A festa se caracteriza pelo uso de máscaras elaboradas e fantasias extravagantes. Para o antropólogo italiano Alessandro Falassi:

“O uso de máscaras e fantasias permitia que as pessoas transcendessem suas identidades sociais para ficar mais livres e se conectarem com o espírito coletivo da celebração”.

Durante os dias do Carnaval, a cidade de Veneza se transforma em um grande palco de festividades, com desfiles, bailes de máscaras, apresentações teatrais e musicais, além de uma série de outras atividades e atrações. 

Com o passar dos séculos, o Carnaval de Veneza se tornou cada vez mais sofisticado e refinado, com a introdução de novas tradições, como a prática do “cortejo nupcial”, no qual um casal de nobres é escolhido para representar os noivos da festa. 

Para o sociólogo italiano Francesco Alberoni:

 “O Carnaval de Veneza é um exemplo de como uma tradição pode evoluir e se adaptar ao longo do tempo, sem perder sua essência e seu significado”.

No século XVIII, o Carnaval de Veneza atingiu o auge de sua popularidade, atraindo visitantes de todo o mundo e se tornando uma das celebrações mais importantes da Europa. 


Napoleão acaba com a festa

Porém, em 1797, com a invasão francesa, a celebração foi proibida e somente foi retomada em 1979, após uma longa interrupção de mais de dois séculos. O historiador italiano, Franco Cardini, explica que Napoleão proibiu as festas por medo de que auxiliassem conspiradores inimigos.

Hoje em dia, o Carnaval de Veneza é um importante evento cultural e turístico, que atrai milhares de visitantes todos os anos. A tradição das máscaras e fantasias elaboradas continua viva, e a cidade se transforma em um cenário de conto de fadas, repleto de cores, música e alegria. 


Carnaval no Brasil moderno

O Carnaval passou a ser uma das festas mais importantes no Brasil desde o século XX, quando as classes populares começaram a fazer suas próprias festas antes da quaresma. Antes desse período, o carnaval era uma festa restrita à alta burguesia, que dançava tango, polca e maxixe, afirmou o historiador Guilherme no documentário da Brasil Paralelo.

Quando as classes populares decidiram fazer suas festas na rua, surgiram as famosas marchinhas de carnaval, um novo gênero musical brasileiro, e o carnaval de rua

A festa ganhou tanta importância no Brasil que é considerada uma das maiores festas do mundo e um dos principais marcos do ano, atraindo turistas de diversos países diferentes.

O Carnaval também é importante para a economia do Brasil, pois é uma época em que muitos turistas visitam o país e gastam dinheiro em hotéis, restaurantes e atrações turísticas. Segundo um estudo da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), o Carnaval de 2019 gerou uma receita de R$ 6,78 bilhões em todo o país.


Discussões sobre o carnaval

No Brasil do século XX, o carnaval era visto como uma festa de família ou bailes para os casais. Nelson Rodrigues chegou a afirmar:

“O Carnaval é o momento em que o brasileiro pode ser ele mesmo, sem as amarras da vida cotidiana. É um tempo de liberdade e de celebração da vida. O Carnaval é o que há de mais autêntico no Brasil, a celebração de nossa cultura e de nossa identidade”.

No final do século XX e início do século XXI, a festa passou a ganhar um enfoque hedonista semelhante às antigas festas de Baco, diz o historiador Guilherme Almeida. Esse pode ser um dos motivos dos historiadores modernos associarem o carnaval com as antigas festas pagãs.

Autoridades morais do século XXI também passaram a condenar a festa. Para Padre Paulo Ricardo, um dos sacerdotes mais seguidos do Brasil:

“A alegria e a felicidade que o carnaval promove são falsas e superficiais, e não refletem uma verdadeira realização pessoal e espiritual. A festa é permeada pela vaidade, sensualidade e cobiça. Esses aspectos podem levar as pessoas a comportamentos impróprios e pecaminosos”. 

Em seu vídeo no YouTube, ele ressalta a importância da reflexão e do crescimento espiritual como caminhos para a verdadeira felicidade e realização.

Para aqueles que não seguem padrões morais tradicionais, a festa é um dos melhores momentos do ano. Clóvis Levi, antropólogo da USP e estudioso do carnaval brasileiro, afirmou que: 

“O carnaval é a festa que mais se aproxima do sonho de liberdade e igualdade, onde as hierarquias são dissolvidas pela alegria e pela fantasia”.

Fonte:brasilparalelo


Até mais!

Equipe Tête-à-Tête

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